segunda-feira, 26 de maio de 2014

DIVISIBILIDADE POR 7 - UMA ABORDAGEM DIFERENTE




Autor: Silvio Moura Velho (pesquisador independente)


A História da Teoria dos Números registra a criação de várias regras matemáticas para verificar se um número é divisível por 7, mas não registra a criação de uma única regra de divisibilidade por 7, de acordo com a seguinte definição:


“Uma regra de divisibilidade é uma forma abreviada de determinar se um dado número é divisível por um divisor fixo sem efetuar a divisão, geralmente pelo exame de seus dígitos. (gn)” (Wikipédia)



Neste ponto, é útil acrescentar a seguinte definição: “Uma regra matemática é um método ou procedimento que descreve como resolver um problema. ” (Pennsylvania Department of Education Standards Aligned Systems)


Se as definições acima mencionadas são corretas, somente regras matemáticas aplicadas com rapidez (forma abreviada) se encaixam na definição de regra de divisibilidade.

 

O famoso escritor sobre questões matemáticas, o norte americano Martin Gardner,  considerado “o melhor amigo da Matemática” e escreveu durante 25 anos a coluna “Mathematical Games” para a revista “Scientific American”, assim se expressou em seu livro “Unexpected Hanging” após haver abordado o tema regras de divisibilidade:

 

“O leitor certamente observou uma omissão singular entre as regras apresentadas. Como alguém pode testar a divisibilidade por 7, o número divino da numerologia medieval? Este é o único dígito para o qual ninguém descobriu ainda uma única regra. O comportamento desordenado do número 7 há tempo tem fascinado os estudantes da teoria dos números. Dezenas de testes curiosos têm sido concebidos, todos aparentemente não relacionados entre si; todos, infelizmente, consomem quase o mesmo tempo que o procedimento ortodoxo da divisão”.

 

A página:  http://en.wikipedia.org/wiki/Divisibility_rule apresenta uma variedade significativa de regras matemáticas utilizadas para verificar se um número é divisível por 7, mas nenhuma dessas regras se encaixa na definição específica de “regra de divisibilidade” contida na página mencionada. Todas as regras mencionadas são aplicadas com muita lentidão e se afastam da definição específica de regra de divisibilidade, apesar de serem regras matemáticas.

 

O primeiro registro de uma regra matemática de divisibilidade por 7 está contido no Talmude, livro sagrado dos judeus, de acordo com os historiadores. Isto significa que o primeiro esboço de uma regra de divisibilidade por 7 teve início há aproximadamente dois milênios. Como até o momento a comunidade matemática está dividida sobre a existência ou não de uma regra de divisibilidade por 7, conclui-se que, apesar de elementar, este é um problema muito difícil.

 

Alguns matemáticos divulgam, ora como truque, ora como regra, um procedimento que, bem analisado, não é uma coisa nem outra.

 

Vejamos como Martin Gardner se refere a esse procedimento, que é o mais divulgado em sites de matemática:

 

“Um teste bizarro de divisibilidade por 7, atribuído a D. S. Spence, surgiu em 1956 em “The Mathematical Gazette (outubro, página 215). O método retroage a 1861; leia L.E. Dickson, History of The Theory Of Numbers, Vol. 1, página 339, em que esse teste é creditado a A. Zbikovski da Rússia.): Remova o último dígito, multiplique-o por dois, subtraia o resultado do número original truncado e continue o procedimento até que reste apenas um dígito. O número original é divisível por 7 se e apenas se o dígito final for igual a zero ou 7.”

 

Na realidade, esse teste passou a ser utilizado até a redução do número testado a um número de dois dígitos.

 

O procedimento não pode ser considerado um truque porque a explicação de por que ele funciona é de uma elementaridade extraordinária: o dobro de um número de um dígito (dezena ou dezena e centena) sempre forma com esse dígito (unidade) um número múltiplo de 7.

 

Exemplos: 1 . 2 = 2 → 21; 2 . 2 = 4 → 42; 3 . 2 = 6 → 63 … 

... 6 . 2 = 126; 8 . 2 = 16 → 168 etc.

 

Então o “segredo” do procedimento consiste em subtrair sucessivamente números múltiplos de 7 do número original; se após essa sequência de subtrações restar um número múltiplo de 7 é evidente que o número testado é múltiplo de 7. Um truque sem segredo não é truque!

 

O PROCEDIMENTO                     PROCEDIMENTO
                                                                 PARALELO
   N = 23.964                                           N = 23.964
             ─ 84 → 7|84                                       ─ 14 → 7|14          
         23.880                                                 23.950                                      1.680 → 7|1.680                                 ─ 350 → 7|350
         22,200                                                23,600                        
        ─ 4.200 → 7|4.200                           ─  5.600 → 7|5.600 
         18.000                                                 18.000



É importante observar que o procedimento consiste em subtrair sucessivamente do número testado múltiplos de 7, até ser obtido um número de dois dígitos.

 



O procedimento paralelo dispensa a multiplicação por dois; necessita apenas da dedução do dígito que forma com o dígito excluído um múltiplo de 7. É mais simples e possivelmente mais rápido, apesar de eliminar somente um dígito em cada aplicação. Esse procedimento foi recusado pelos estudiosos do assunto porque é evidente que sua simplicidade não iludiria ninguém.

 

 



O procedimento indubitavelmente é uma regra matemática para verificar a divisibilidade de um número por 7, mas por ser aproximadamente tão lento quanto efetuar a própria divisão de um número por 7, não se enquadra na definição específica de “regra de divisibilidade” porque evidentemente não consiste em uma “forma abreviada” de efetuar o teste, principalmente em relação a números grandes.

 



Um bom exemplo dessa lentidão consiste na aplicação do procedimento ao número de dez dígitos: N = 3.218.576.816 e, em seguida efetuar a divisão desse número por 7, na forma ortodoxa. Uma regra de divisibilidade verdadeira é sempre uma forma abreviada de verificação independentemente da constituição e da quantidade de dígitos do número testado. Mais adiante o número indicado será objeto da aplicação de uma regra que se encaixa na definição de “regra de divisibilidade” criada por mim no ano de 2008.

 



A comunidade matemática costuma ser rigorosa e apegada a definições. Parece que, no caso de uma regra de divisibilidade por 7, o rigor costumeiro foi abandonado. O que é mais constrangedor? Adotar uma falsa regra (truque?) ou admitir a inexistência de uma regra verdadeira? Muitos sites especializados em Matemática adotaram a segunda alternativa. Isto é fácil de confirmar digitando em um site de busca as palavras: “divisibility by 7” e “no rule”; a busca em inglês produz uma maior quantidade de resultados.

 



Aproximadamente no ano de 1992 iniciei minha pesquisa para criar uma regra de divisibilidade por 7. Foi quando aprendi uma regra de divisibilidade tão demorada quanto as demais, mas menos divulgada. Tive a intuição de que seria capaz de criar uma regra mais rápida e iniciei meus estudos. Interrompi minha pesquisa várias vezes, mas sempre a retomei.

 



Tentei uma abordagem diferente daquela que os estudiosos haviam adotado na criação de suas regras. As regras criadas em dois milênios de história geralmente estão baseadas em algoritmos que eliminam apenas um dígito de cada vez, ou em procedimentos complicados e extremamente morosos.

 



Minhas regras, que denomino “Regras Moura Velho” de divisibilidade por 7 são sempre aplicadas com maior rapidez e simplicidade porque eliminam dois ou mais dígitos em cada aplicação do respectivo algoritmo.

 



No ano de 2005 criei e divulguei a primeira “Regra Moura Velho” de divisibilidade por 7, que se enquadra na definição específica de “regra de divisibilidade”, que considero a primeira regra de divisibilidade por 7 da História da Teoria dos Números. Divulguei um vídeo dessa regra no site da Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=plRO-L_0cto

 



Nos anos seguintes criei novas “Regras Moura Velho” de divisibilidade por 7, sendo que no ano de 2008 criei a regra que considero a mais simples e rápida. Mudando o que deve ser mudado, essa regra funciona também para verificar a divisibilidade de um número por 11 ou 13. Minha última regra (derivada daquela) que foi criada em 2013 é um pouco mais complexa, mas é igualmente rápida. Essas duas regras podem ser vistas, juntamente com outras, através de vídeo divulgado no site da Vimeo: https://vimeo.com/92571509

 



As Regras Moura Velho de divisibilidade por 7 foram todas incluídas (com exceção da última) em um livro ainda inédito e registrado junto ao INPI sob o título: “Divisibilidade por 7: o Fim de um Mito?”

 



Este é o algoritmo correspondente à regra criada em 2008:

 



N = a.bcd; a’ ≡ ( ─ cd mod 7 + a ) mod 7 → a’b; se 7|a’b então 7|N

 



Para números maiores, os dois últimos dígitos são eliminados e abcd se desloca para a esquerda até que o último par de dígitos à esquerda seja alcançado. Se o último par de dígitos à esquerda estiver incompleto, um zero deve ser mentalmente acrescentado para suprir a ausência do dígito “a”. Se o resultado final a’b for divisível por 7 então o número testado é também um múltiplo de 7.

 



─ cd mod 7 é o inverso aditivo de cd em módulo 7 que corresponde à diferença entre cd e o número múltiplo de 7 imediatamente superior.

 



Ex:  ─ 12 mod 7 ≡ 2; na linguagem comum: 12 para 14 é igual a 2.

 



Porque funciona:

 



Este algoritmo funciona porque ─ cd mod 7 ≡ 6 cd mod 7 que é adicionado à casa do milhar: + 6.000 cd. Como cd é eliminado (casas da dezena e da unidade), o processo resulta em uma adição de 6.000 cd e uma subtração de cd: 6.000 cd ─ cd = 5.999 cd. Como 7|5.999 o valor de N em módulo 7 é preservado em cada aplicação do algoritmo. Para comprovar este fato é necessário substituir cada par de dígitos eliminado por zeros.



 



Obs.: ─ n mod x ≡ ( x ─ 1 ) . n mod x para n e x.

 



Como funciona essa regra, através de um exemplo numérico:

 



N = 3.218.576.816

 



Este é o número mencionado anteriormente.

 



O algoritmo pode ser aplicado repetitivamente da direita para a esquerda, com extrema rapidez e precisão, exclusivamente através de cálculos mentais, sem a necessidade da utilização de qualquer anotação.

 



Os passos referentes à aplicação da regra serão descritos através da linguagem comum, para facilitar o entendimento.

 



Passo 1: 16 para 21 = 5; 5 + 6 ─ 7 = 4 → 32185748



Passo 2: 48 para 49 = 1; 1 + 5 = 6 → 321867



Passo 3: 67 para 70 = 3; 3 + 1 = 4 → 3248



Passo 4: 48 para 49 = 1; 1 + 3 = 4 → 42; 7|42 e 7|N



O resultado final (RF) = 42

 



A determinação do resto (r) da divisão de N por 7:

 



Se 7ƗN, para determinar o resto, é necessário efetuar a contagem do número de pares de dígitos (n) que constituem N e realizar a subtração: n ─ 1.

 



Se ( n ─ 1 ) mod 3 ≡ 0; r ≡ RF mod 7



Se ( n ─ 1 ) mod 3 ≡ 1; r ≡ 2 . RF mod 7



Se ( n ─ 1 ) mod 3 ≡ 2; r ≡ 4 . RF mod 7

 



Em 1654 Pascal divulgou seu critério de divisibilidade por 7 (teorema 2.5) que consiste em multiplicar cada dígito de um número pela seguinte sequência de multiplicadores:



...231546231

 



A multiplicação de RF por 1, 2 ou 4 mod 7 para a determinação do resto da divisão de N por 7 se fundamenta na sequência de multiplicadores correspondentes a cada dígito da unidade de cada par de dígitos (sublinhado), da direita para a esquerda.

 



Exemplo: N = 82.324.544



Passo 1 : 44 para 49 = 5; 5 + 4 ─ 7 = 2 → 823225



Passo 2 : 25 para 28 = 3; 3 + 3 = 6 → 8262



Passo 3 : 62 para 63 = 1; 1 + 8 ─ 7 = 2 → 22; 7Ɨ22 e 7ƗN

 



Determinação do resto: n = 4; ( 4 ─ 1 ) mod 3 ≡ 0; então r = RF mod 7 → 22 mod 7 ≡ 1

 



O resto da divisão de N por 7 é igual a 1.

 



Dou por encerrada a apresentação de minha Regra Moura Velho de divisibilidade por 7 predileta. Ela foi escolhida porque seu algoritmo é facilmente aprendido e sua aplicação é extremamente rápida e precisa. Todavia, qualquer Regra Moura Velho de divisibilidade por 7 é mais rápida do que qualquer regra matemática criada por outros pesquisadores ao longo de dois milênios de história.

 



Espero que a comunidade matemática acolha as Regras Moura Velho de divisibilidade por 7 por uma questão de justiça e reconhecimento ao enorme trabalho de pesquisa que realizei ao longo de aproximadamente vinte anos. Como a Ciência Matemática não tem ego, ela já acolheu as Regras Moura Velho de divisibilidade por 7.



 

domingo, 4 de maio de 2014

DETALHES DA QUINTA REGRA MOURA VELHO (BÔNUS)


Esta postagem se destina a esclarecer detalhes sobre a quinta regra Moura Velho de divisibilidade por 7 apresentada em vídeo, como bônus.

Mudando-se o que deve ser mudado, esta regra funciona também para a divisibilidade por 13.

ALGORITMO

N = abc; xabc → 7|xa; S = x + bc; se 7|S então 7|N

O dígito “x” deve ser inserido mentalmente de maneira a formar com o dígito “a” um múltiplo de 7.

Para números maiores, este algoritmo deve ser aplicado repetitivamente a cada uma das classes de N. O inverso aditivo em módulo 7 de cada soma (S) deve ser adicionado ao dígito “x” da classe seguinte e ao número formado pelos dois dígitos subsequentes. O procedimento deve ser aplicado até que a última classe de N seja alcançada. Se 7|RF (resultado final) então 7|N. Se a classe inicial tiver menos de três dígitos o algoritmo deve ser aplicado parcialmente.

PORQUE FUNCIONA

O dígito “x” é equivalente a 2a mod 7 e bc é equivalente a ( 3b + c ) mod 7. Então a soma dos produtos obtidos pela aplicação do algoritmo é: SP = 2a + 3b + c e os multiplicadores são respectivamente: 2, 3 e 1, exatamente os mesmos multiplicadores estabelecidos por Pascal em seu critério de divisibilidade por 7 (teorema 2.5) aos três dígitos da classe da unidade, conforme mencionado anteriormente.

A aplicação do inverso aditivo em módulo 7 a SP tem o seguinte resultado: ─ ( 2a + 3b + c ) mod 7 ≡ 5a + 4b 6c.

Para números maiores, a classe seguinte é formada pelos dígitos “def”. A aplicação do algoritmo à classe seguinte tem como resultado SP = 2d + 3e + f e a soma dos produtos referente às duas classes (abcdef) é SP = 5a + 4b + 6c + 2d + 3e + f cujos multiplicadores são: 5, 4, 6, 2, 3 e 1 que são exatamente os multiplicadores estabelecidos por Pascal quando criou seu critério de divisibilidade por 7.

Quando o número é composto por várias classes, a aplicação do inverso aditivo a cada uma das somas obtidas na passagem de uma classe para outra implica a repetição sucessiva dos multiplicadores estabelecidos por Pascal em seu critério de divisibilidade por 7:
...31546231546231

A aplicação dessa regra funciona porque equivale à aplicação em módulo 7 dos multiplicadores estabelecidos por Pascal em seu critério de divisibilidade por 7. Se 7|RF (resultado final) então 7|N; se 7ƗRF então RF mod 7 é equivalente ao resto da divisão de N por 7.

COMO FUNCIONA E DETERMINAÇÃO DO RESTO

Os cálculos podem ser efetuados mentalmente com extrema rapidez. As anotações foram efetuadas apenas para ilustrar a aplicação da regra.

N = 62.324.452; 62; (6)324; (1)452
─ 62 mod 7 + 6 + 24 = 31; ─ 31 mod 7 + 1 + 52 = 57; 7Ɨ57 e 7ƗN; RF = 57; 57 mod 7 ≡ 1 = resto da divisão de N por 7.

N = 362.458.923.312; (6)362; (1)458; (4)923; (6)312
6 + 62 = 68; ─ 68 mod 7 + 1 + 58 = 61; ─ 61 mod 7 + 4 + 23 =  29;   ─ 29 mod 7 + 6 + 12 = 24; 7Ɨ24 e 7ƗN; RF = 24;
 24 mod 7 ≡ 3 = resto da divisão de N por 7.